elém e Brasília - Figura emblemática na defesa do meio ambiente, Marina Silva enfrentou um dos momentos mais difíceis de sua carreira. Ex-senadora e atual ministra do Meio Ambiente, Marina, que já foi aclamada por sua luta ambiental, agora está envolta em polêmicas que abalam sua imagem e liderança.

Primeiros erros
Uma das principais polêmicas é a concessão de áreas de proteção ambiental à iniciativa privada, interpretada como 'privatização'. O Ministério do Meio Ambiente, sob sua liderança, autorizou a concessão do Parque Nacional de Jericoacoara, no Ceará, a um consórcio liderado pelo Grupo Cataratas e pela Construcap, cuja presidência está nas mãos de Roberto Ribeiro Capobianco, irmão de João Paulo Ribeiro Capobianco, secretário-executivo e homem de confiança de Marina. Críticos, como Pedro Ivo, da Ong Terra Azul, ironizam a situação, afirmando que a concessão é um mecanismo de exploração comercial disfarçado: “A Globo é concessão, mas tem donos que se tornaram milionários explorando comercialmente o que é público”. Os ambientalistas defendem essa concessão como uma privatização de patrimônio natural, gerando diversas críticas de organismos internacionais e da sociedade civil.
Tubarões em perigo
Outro ponto de tensão foi a autorização para a pesca de tubarões em águas brasileiras, incluindo espécies ameaçadas. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) expressou preocupação com a captura insustentável, que compromete o equilíbrio dos ecossistemas marinhos.
A exportação de barbatanas de tubarão, embora legal, facilita o tráfico ilegal e prejudica a imagem internacional do Brasil. O Conama pediu medidas urgentes para proibir essa prática, questionando o comprometimento da Marina com a conservação da biodiversidade marinha.
Derrota na Rede
Marina também enfrentou desafios internos na Rede Sustentabilidade, partido que ajudou a financiar. No VI Congresso do partido (foto acima), sua chapa, apoiada por ela e pelo deputado federal Túlio Gadelha, obteve apenas 26% dos votos, perdendo o controle para o grupo liderado pela ex-senadora Heloísa Helena, que está sem mandato. Essa vitória foi interpretada como uma ocorrência das bases ao distanciamento de Marina das lutas populares e das pautas originais da legenda.
Heloísa Helena promete reconectar a Rede com seus princípios fundadores, buscando uma postura mais combativa e alinhada com os movimentos sociais.
Zigue-zagues políticos
A trajetória de Marina é marcada por zigue-zagues políticos extravagantes. Originária do PT e ligada ao ambientalista de esquerda Chico Mendes, sua migração para uma ideologia amorfa, "nem esquerda nem direita", a colocou em uma posição delicada, sobretudo em um momento de polarização extrema.
“Em cima do muro, você pega pedrada dos dois lados”, já ensinou o adágio popular. Exemplos de sua falta de posicionamento claro incluem seu apoio a Aécio Neves no segundo turno presidencial de 2010 e sua posição favorável ao impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Essa falta de alinhamento programático e classista tem sido criticada por antigos aliados, como Randolfe Rodrigues, situações que apontam a falta de sentido histórico em suas decisões e alertam para a falta de atenção de sua pasta para com os povos da Amazônia, alfinetando: “A Amazônia não é apenas sua natureza, mas também a diversidade dos povos que habitam a região”.
Margem Equatorial
A exploração do petróleo na Margem Equatorial brasileira se tornou um ponto de discórdia que tenciona o governo Lula desde o começo da gestão de Marina Silva à frente da massa.
Enquanto a Petrobras e o Ministério de Minas e Energia defendem uma exploração como uma oportunidade econômica, inclusive para custear a transição energética, o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente, liderados por Marina, atrasam os estudos alegando “preocupações ambientais”. O argumento de que era preciso medir o impacto da exploração do petróleo na Margem Equatorial sob as populações indígenas gerou um comentário irônico de Ciro Gomes: "Nativos 500 milhas mar adentro? Só se for Atlântida", disse em entrevista recente, onde atacou "o marinismo" como uma "doutrina do atraso".
A oportunidade de exploração de petróleo e gás na região é vista como uma chance de ouro, especialmente em comparação com o crescimento econômico da Guiana, que tem experimentado um crescimento econômico impressionante, com o PIB a crescer mais de 60% em 2022. A produção de petróleo aumentou significativamente, passando de 380 mil barris por dia em 2023 para 640 mil em janeiro de 2024.
A pequena Guiana tem potencial para se tornar um dos maiores produtores de petróleo da América do Sul, com a produção projetada a aumentar para 1,2 milhão de barris por dia até 2027. O aumento da produção de petróleo tem levado a um aumento da riqueza do país, com o PIB per capita aumentando para cerca de US$ 29 mil.
A hesitação do Brasil em explorar suas riquezas pode resultar em perdas econômicas significativas, especialmente em um cenário global que ainda depende de combustíveis fósseis.
Futuro de Marina
As polêmicas em torno da concessão de áreas de proteção ambiental, a ordem de pesca de tubarões ameaçadas e o bloqueio aos estudos da Petrobras na Margem Equatorial, que impedem a exploração de petróleo, levantam questões sobre a capacidade de Marina de manter sua integridade em um cenário político tensionado pela necessidade de resultados de curto prazo. Sua derrota interna na Rede Sustentabilidade expõe fragilidades em sua liderança e a necessidade de reavaliação de sua estratégia política. Após duas derrotas nas eleições presidenciais e a perda do controle do partido, o futuro de Marina na política é incerto. Para recuperar sua influência, ela e seu grupo estudantil estão mudando de partido, oscilando entre PSB e PDT, enquanto enfrentam batalhas burocráticas e políticas que podem comprometer sua trajetória futura.
Papo Reto
•E segue a famosa saga dos concursos públicos para docente na Universidade Federal do Pará - árdua missão para o reitor Gilmar Pereira (foto).
•Uma ocasião sim, outra também, os certames vão bater na mesa dos procuradores federais na PGR.
•O motivo é o de sempre: os candidatos ‘aprovados’ têm, digamos, sólidas vinculações até com antigos dirigentes da instituição.
•Vai daí que os reprovados vão se queixar aos fiscais da lei, invariavelmente. Uma farra sem fim.
•Qualquer segurado do Iasep que precisar de consulta especializada em alergias está sendo obrigado a pagar o valor da consulta, pois o Instituto não garante mais, mas apenas o valor dos testes.
•Em 2023, nada menos do que 12.691 servidores de 121 órgãos federais recebiam auxílio-saúde de forma irregular por terem cadastrado pais como dependentes, o que é proibido pelas normas que regulam o benefício, segundo a CGU.
•Por falar em CGU, a Controladoria concluiu que 97% dos aposentados e pensionistas ouvidos em auditoria não autorizaram os descontos em folha realizados por entidades associativas.
•E que foi justamente esta descoberta que levou à deflagração da operação “Sem Desconto”, conduzida em parceria com a Polícia Federal, que já investiga um esquema que movimentou R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.
•Em Brasília, falando com um amigo da coluna que ciceroneou uma delegação dinamarquesa interessada na COP30. Veja.
•Durante o almoço em uma churrascaria famosa por receber políticos, foi questionado se no Brasil não há o hábito do uso de cartão de crédito.
•Sem dar muita atenção à pergunta, o amigo brasileiro respondeu que “há”. E foi ao banheiro.
• Observando as pessoas, porém, viu três clientes pagando a conta com dinheiro em espécie. E resolveu perguntar ao garçom.
•“Amigo, aqui é costume pagar conta em dinheiro?”, ao que o garçom prontamente responde: “Até o tempo do Bolsonaro, era cartão; agora, com Lula, eles só pagam em dinheiro”. Pano rápido.